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segunda-feira, 20 de junho de 2011

O IDIOTA E SUA PROFISSÃO - Marcelo Pavanelli (paródia de crônica de Arnaldo Jabor - O Idiota e a Moeda)



       Conta-se que num país da América do Sul um grupo de políticos se divertia com uma categoria de idiotas, uns pobres coitados, com nível superior, muitos com pós graduação, que viviam de umas 14, 15 aulas diárias. 
       Mensalmente, tais políticos depositavam no Banco uma quantia para os idiotas e na TV anunciavam para a população outra quantia, bem maior.
       Os idiotas sempre escolhiam a quantia maior, mas os políticos davam-lhes sempre a menor, o que era motivo de risos para todos os parlamentares.
       Certo dia, um dos membros do grupo do governo chamou-os e lhes perguntou se ainda não haviam percebido que a quantia anunciada na TV era bem maior que a que eles efetivamente recebiam. 
       - Nós sabemos, responderam os tolos. Ela é duas ou três vezes maior. Mas, no dia que nós lutarmos de verdade pela maior, vamos ter que fazer greve e as aulas param, prejudicando milhares de alunos e causaremos um bom atraso no país e estaremos, assim, contribuindo para que vocês continuem rindo de nós!
      
       Podem-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa. 
       A primeira: Quem parece idiota, é mesmo!!
       A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da história, da geografia, da língua portuguesa, da matemática, ...?
       A terceira: Se você for esperto e quiser ter um padrão de vida regular, fuja do magistério.
      
      Mas, a conclusão mais interessante é:
 
       1-A percepção de que o professor pode não estar bem mesmo quando os outros acham o contrário é verdadeira. 
       2-Portanto, o que importa não é o que pensam dos professores, mas sim, o que fazem com eles. 
       3-O maior prazer de um professor inteligente é abandonar um governo idiota que se passa por inteligente.
       4-Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação, pois a segunda o governo já destruiu.
       5-Porque sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que o governo quer que você seja. E o que o governo pensa eu estou pouco me lixando!!!!.





O IDIOTA E A MOEDA - Arnaldo Jabor

 
       Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas. 
       Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 RÉIS e outra menor de 2.000 RÉIS.
       Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos. 
       Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos. 
       - Eu sei, respondeu o tolo. "Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda”. 
      
       Podem-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa. 
       A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.
       A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da história?
       A terceira: Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.
      
      Mas, a conclusão mais interessante é:
 
       1-A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito. 
       2-Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, quem realmente somos. 
       3-O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente. 
       4-Preocupe-se mais com sua consciência do que com sua reputação. 
       5-Porque sua consciência é o que você é, e sua reputação é o que os outros pensam de você. E o que os outros pensam... é problema deles.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

A EDUCAÇÃO TRANSFORMA OU REPRODUZ A SOCIEDADE?


Essa é uma pergunta bastante comum entre aqueles que estudam a Educação, mas que não tem uma resposta bastante simples do ponto de vista teórico, todavia essa resposta é a busca da quase perfeição em educação.
A Educação reproduz a sociedade, uma vez que essa sociedade se serve da Educação. Ao se servir da Educação como uma ferramenta, a sociedade coloca seus valores, suas crenças, suas virtudes e seus demônios no bojo da Educação doando a ela suas características mais íntimas.
Na verdade, quando falamos em Educação, logo lembramos da Escola como centro formador e educador. Mas isso não é verdade, pois não é apenas da escola o papel de educar já que, se assim o fosse, teríamos uma sociedade bastante normalizada em princípios, valores e conceitos e isso seria terrível. Ainda bem que a família, a igreja e a mídia igualmente são responsáveis pela Educação e elas desempenham papéis de suma importância nessa doação de características, valores e princípios, justamente o que produz a interdependência entre os indivíduos.
A família, unidade primeira de formação do indivíduo, é responsável por doar ao indivíduo características e valores que esse carregará até o final de seus dias. Ela, a família, ao transmitir seus princípios ao indivíduo transforma-o e esse segundo, sendo parte da sociedade, a transformará. Conforme os valores, princípios e características das famílias vão se modificando, os indivíduos seguem a mudança e a sociedade é gradativa e constantemente transformada.
O mesmo ocorre com a igreja, que educa o espírito. Ela educa o indivíduo dentro de sua doutrina, respeitando seus dogmas e suas crenças embutindo nele elementos que serão confrontados e derramados na sociedade igualmente transformando-a. O modo de agir, entender o oculto, perceber e interagir com o meio, fará o indivíduo transformar a sociedade, o mesmo ocorrendo com a mídia, suas propagandas, suas notícias, seus editais e seus valores. Tudo isso faz parte da educação do indivíduo.
Contudo, a escola é o aparelho social, segundo Emily Durkein, que molda o indivíduo para servir a sociedade, ou seja, a sociedade tem na escola uma ferramenta poderosíssima de normalização dos indivíduos. É da escola que se cobra providências quando o assunto é Educação.
Assim, a escola trabalha nos anseios e desejos da sociedade, incorpora esses desejos e anseios, modifica-se e prepara o indivíduo conforme a sociedade deseja. Ao incorporar os valores da sociedade, a escola se modifica transformando o seu modo de educar. A sociedade participativa penetra na escola, deposita lá o que deseja, transforma a escola e colhe dela o que lá deixou. Por isso a Educação escolar é reflexo da sociedade, pois lá está o que a sociedade deixou e de lá sai exatamente o que a sociedade quer. Para provar isso, basta que a escola tome uma medida, por mais nobre que seja, que contrarie os interesses da sociedade local para ver o que acontece. A sociedade incomodada com a medida, procurará a escola para esclarecimentos.
Todavia, apesar da Educação ser reflexo da sociedade, não podemos deixar de dizer que a Educação transforma essa sociedade, mas transforma somente até o limite de tolerância da sociedade. Tanto isso é verdade que temos uma sociedade bem diferente hoje do que tínhamos há 50 ou 100 anos. A escola modificou-se também. Nesse período, podemos observar mudanças significativas em ambas, tanto no âmbito dos valores quanto no âmbito estrutural.
Há 100 anos o conceito de família era pai, mãe e filhos. O pai trabalhava fora, a mãe em casa e os filhos deveriam ser tementes aos pais. Todos faziam as refeições juntos nos horário e havia respeito à hierarquia. Mulheres não tinham direito à Educação formal. Nessa época, a escola seguia esse padrão de comportamento com a figura do professor no papel de detentor do direito e do saber, os alunos tementes a esse professor obedecia-lhe todas as ordens e tudo era feito dentro de um cronograma com filas bem organizadas, todos lanchando juntos e sentados á mesa, com inspetores circundando-os como águias, pois esse era o modelo que a sociedade cobrava. Sem falar que os pais recomendavam aos professores que batessem em seus filhos caso fossem desobedientes em sinal claro de reflexo da sociedade dentro do ato de educar.
Já há 50 anos, a mulher começou a se emancipar, os filhos deram pontas de se rebelar contra os pais e contra o sistema político e a repressão estava nas ruas. A escola acompanhou essa tendência.
Hoje, as famílias são as mais diversificadas possíveis, os valores estão invertidos, a tecnologia entrou avassaladoramente na escola que tem que se modificar para poder acompanhar tudo isso. O reflexo é professores fragilizados, alunos imperando no âmbito escolar, e uma desordem de tal magnitude que ninguém mais sabe o que é certo e o que é errado, o que é coerente e o que é incoerente e não há mais qualquer padrão regulador.
Contudo, em se organizando, ao absorver os contratempos e as mudanças da sociedade, a escola tem sim um papel transformador. Ela pode e deve ser o catalizador dessas mudanças. A educação escolar tem papel fundamental nesse processo de transformação social, pois ela tem o poder institucional como aliado e ainda tem o respeito da sociedade. Assim, cabe à escola refletir a sociedade, porém apoderando-se das informações captadas e transforma-las em bases sólidas onde a própria sociedade possa continuar mudando e evoluindo tendo a Educação não somente como ferramenta, mas como companheira de mudanças e reflexões.

José Marcelo Pavanelli

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Por que o Professor Fracassa em Sua Profissão?



Há muito tempo, a educação brasileira vem sofrendo um processo de degeneração crônica, apesar dos dados oficiais insistirem em desmentir esse fato. A escola é arcaica e não consegue acompanhar as mudanças impostas pelas novas tecnologias e, mesmo com o esforço demonstrado pelas melhores escolas (em sua grande maioria pertencente á rede privada), a nova ordem mundial coloca a escola em xeque perante toda a sociedade que, por sua vez, cobra timidamente uma reação rápida. E, no meio dessa poeira toda que sobra para a educação, está o professor, agente importantíssimo para as mudanças necessárias na recuperação e reconstrução de todo o sistema educacional, porém totalmente enfraquecido pelo descaso, pelo demérito e pela indiferença de quem patrocina e financia a educação.
Não é de hoje que se fala em educação de qualidade, em uma escola que prepare o indivíduo para a vida e em um sistema educacional inclusivo que dê a todas as pessoas as mesmas oportunidades. Isso é muito importante ser questionado, cobrado e, sobretudo, a luta por uma escola assim deve ser diária, pois é uma batalha muito nobre. Porém, quando os resultados não aparecem, quando os números não agradam, quando o ego econômico bate á porta da impotência dos covardes, o primeiro agente educacional que vem à tona como vilão do fracasso generalizado da escola é o professor, como se ele fosse o único agente do processo que não atingiu a excelência e, bem contrário a disso, arruinou sumariamente todo o sistema. E isso é muito triste, pois caracteriza uma das maiores e mais cruéis injustiças pela qual passa uma classe no Brasil: a do professorado.
O aluno jamais é questionado se seu interesse pelos estudos é muito baixo ou quase nulo. O que se questiona são os motivos que levaram o professor a não motivar suficientemente esse aluno, como se o professor possuísse poderes extrassensoriais e absolutos sobre os desejos de seus alunos que, por sua vez, necessitam de estímulos exclusivos da escola para estudar. Neste caso, o papel do professor é apresentar mídias, meios de comunicação com os alunos que a escola boicota através de sua excessiva burocracia, falta de recursos e limitações físicas.
Igualmente os pais são eximidos da parcela que lhes cabe nessa situação de fracasso. Sim, os pais, pois são eles quem administra a educação dos filhos no campo da moral, dos costumes e da vida em sociedade. Esse papel não cabe à escola e nem ao professor. Esses podem incrementar a educação vinda de casa acrescentando elementos técnicos e pontos de vista científicos, mas nunca substituirão a família.
Além desses, está o governo, agente financiador de sua própria rede, controlador e regulador das demais. E é exatamente esse agente educacional que detém o poder de proporcionar aos professores condições, se não ideais, ao menos confortáveis para que a situação se reverta. Contudo, o governo tem outras prioridades que não a educação. Ele diz em sua propaganda institucional que está preocupado e que destina a ela as verbas previstas em lei. Sim, isso é o mínimo que se deve fazer, mas todo o restante fica á mercê de um emaranhado de leis e resoluções que mais atrapalha o processo educacional que ajuda. As medidas unilaterais, investimentos estapafúrdios, um paternalismo desmedido e pedante que somente faz minar mais ainda as forças do professor, o agente final do processo, antes do aluno, é claro.
Contudo, se algo vai mal (e não pode ir bem mesmo com essa confusão toda), o governo se exime igualmente de sua parcela, dizendo que é do professor a responsabilidade de cativar os alunos, mas ele mesmo não proporciona ferramentas para que isso aconteça. E quando fornece as ferramentas, elas são, geralmente, inadequadas e ineficiente, mas, aos olhos do eleitor (leia-se pais) ele cumpriu mesmo sua parte, criando um clima tenso e árido entre pais e professores. E esse cenário de tensão é absorvido pelo aluno também que passa a tomar partido e a se desinteressar ainda mais.
O que acaba por fim acontecendo é que, nas escolas da rede privada, o professor é tratado como um empregado do pai e/ou da mãe. Ele é um mero funcionário que presta um serviço determinado e, se receber qualquer crítica de algum aluno por via formal, pode perder (e perde mesmo) o emprego. E isso é tão grave que, se em uma sala de trinta e poucos alunos, um ou dois alunos que resolvam não gostar da conduta do professor, esse corre sérios de ser advertido ou mesmo ser demitido caso haja uma formalização da reclamação. Não há proteção a esse profissional na maioria das escolas particulares. Mas esses dados não se oficializam e ninguém ousa divulga-los.
Já na escola pública, ele é tratado como um coitado, como um ser acomodado, como alguém que, por falta de opção na vida, foi “dar” umas aulinhas (o termo é vulgar e denota indiferença). O estado, ao invés de mudar esse paradigma horroroso, ele reforça ao afirmar que o fracasso é do professor. É ele, professor, que fracassado em suas tentativas, leva a educação ao caos. Essa é a idéia difundida. É isso que se prega. É assim que a escola se distancia cada dia mais do mundo real.
O professor não fracassou em sua profissão. Quem fracassou foi quem negligenciou e continua a negligenciar a educação como fator de mudança social e não como um estorvo ou um palanque. E, digamos que seja realmente o professor o fracassado nessa história. Neste caso cabe uma pergunta: Qual o motivo de o governo manter tanta gente fracassada em sua rede? Por esse prisma, o fracasso também é do governo, uma vez que fracassou ao contratar, preparar e motivar seus professores.
Portanto, o professor não fracassa em sua profissão. Isso é um mito criado para que as atenções não recaiam sobre os verdadeiros responsáveis por essa miséria institucionalizada. O professor fracassa, sim, em suas tentativas débeis em buscar novas metodologias para apresentá-las a pessoas sem o menor interesse pelo saber. Fracassa ao buscar aperfeiçoamento técnico intelectual buscando um plano de carreira que o valorize e, em contra partida, recebe descaso, migalhas e difamação. Fracassa ao ter uma legislação medíocre que apenas o pune e não dá a ele qualquer respaldo em sua tentativa de educar. Fracassa em sonhar e idealizar em um mundo tecnocrata e imediatista. Fracassa, enfim, em saber que a escola como a conhecemos morreu e ainda deve, ele professor, buscar suspiro de vida nesse cadáver nefasto e putrefeito.

J.M.Pavanelli

O que se vê da sala de aula.

Nessas duas décadas em que estou na Educação, nunca presenciei um período de tanta intolerância, maldade e descaso como presencio nos dias atuais. A falta de respeito, a ironia e a petulância são constantes no ambiente escolar transformando o que deveria ser a casa do saber em um campo de batalhas.

É triste, porém está presente. Porém, o que mais me assusta é a desatenção que se dá a esse fato e a negligência com que o assunto é tratado, pois nem governo, nem a imprensa, nem os "especialistas" em Educação fazem algo de forma concreta e eficiente para, ao menos, minimizar o problema. O fato é que enquanto discutem métodos, formas e ajustes, a escola vai sofrendo a erosão da demora.

A grande maioria dos alunos não estão realmente interessados em estudar. Em poder se seus potentes e modernos aparelhos de celular, abandonam o arcaico e ultrapassado caderno de celulose pela tela luminosa e colorida dos aparelhos eletrônicos. E eles tem toda a razão para fazer essa troca uma vez que a tecnologia avançou de forma extremamente espantosa nas últimas décadas e a escola continua no século XVIII.

Contudo, a escola, velha e sem atrativos, ao invés de incorporar essas novas mídias, ela a combate. Isso gera um atrito violento já que a escola não aceita a tecnologia que o aluno trás e esse não aceita o engessamento que a escola lhe oferece. O resultado não poderia ser outro que não a intolerância de parte-a-parte, discussões, revoltas, embates acalorados, repressão e tirania.

O professor fica no meio do fogo cruzado entre o que o aluno tem e o que a escola oferece. Ele dever cumprir o papel que o estado o imputa, contudo não fica alheio às razões dos alunos. Durante essa intermediação, na qual ele está sempre só, o professor não tem recursos físicoe e nem legais para fazer uma boa intermediação e acaba sendo punido tanto pelo aluno quanto pelo Estado e se cansa de tentar. Assim, cansado e fatigado pelo trabalho vão, esse professor passa a não mais se dedicar como antes e passa a ser uma mera figura emblemática e presencial em sala de aula. Ele já não tenta fazer mais nada de novo por entender que a luta é desleal. Nisso o aluno percebe que ele "saiu vencedor" do embate e passa a comandar a escola com o aval da inércia do governo e com o assistencialismo bonitinho, mas ordinário da lei.

O resultado é esse que vemos: professores desmotivados, atados e abandonados; alunos com a falsa e perigosa sensação de estarem no poder; a escola movendo-se à velocidade de uma lesma enquanto o mundo gira à velocidade dos bits; o governo com seus programas que satisfazem apenas a quem gosta de boa propaganda; a imprensa fazendo ar de espanto quando tragédias eclodem e a sociedade que assiste a tudo isso de forma passiva esperando que o maná das soluções caiam do céu.

Passou da hora disso mudar. estamo criando uma geração de monstros e tiranos. O preço disso já será bem alto e  o máximo que podemos fazer agora é estancar essa hemorragia e esperar que o tempo se encarregue do resto, pois se nada for feito, as futuras gerações arcarão com o ônus de nossa incompetência.

Professor José Marcelo Pavanelli

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Carta Aberta

A carta a seguir foi enviada à Secretaria de Estado da Educação de São Paulo que simplesmente não emitiu qualquer resposta demonstrando o quanto ela está preocupada em ouvir os professores.




Caros senhores,

Agradeço a todos os senhores do Departamento de Recursos Humanos, ao Senhor Secretário da Educação, ao Governador do Estado de São Paulo Sr. Dr. Geraldo Alkimin e todos aqueles que administram a educação pública em meu Estado natal pelo reconhecimento a meu trabalho como professor durante o ano de 2010.

Durante o citado ano, mais do que Língua Inglesa, sempre procurei orientar meus alunos acerca do papel social de cada um deles e da importância que cada um tem pelo potencial a ser desenvolvido por cada um. Muitos desses alunos, desiludidos em suas famílias, sem esperanças de conseguir um lugar ao sol, impotentes perante a selvageria do mercado de trabalho, buscavam na escola uma alternativa viável que os conduzissem ao caminho do bem. E, como representante dessa escola, como agente do governo, sempre me posicionei ao lado de cada um deles, sempre que eu era procurado e, em muitos casos, era eu quem os procurava, haja vista a apatia que pairava sobre eles.

Essa prática minha não tem qualquer conotação de interesse unilateral, pois nesses dezenove anos que dedico á Educação Publica Estadual Paulista sempre posicionei meus alunos acima de qualquer coisa, inclusive (perdoem-me meus superiores) quando as resoluções governamentais pudessem prejudicá-los de alguma forma. O meu interesse na Escola jamais foi a legislação ou a burocracia. Meu interesse na Educação sempre foi e sempre será a troca positiva do meu conhecimento com o conhecimento deles. Isso na prática, sem as retóricas de muitos cursos vazios ministrados por que jamais entrou em uma sala de aula.

A Língua Inglesa, disciplina na qual sou titular de cargo, é apenas um motivo para estarmos juntos. Ela é aprendida, porém funciona apenas como um veículo de aproximação. O importante é o desenvolvimento do menino e da menina.

As notas, muitas vezes, são baixas por diversas razões. Muitos tem limites terríveis a serem superados e não posso padronizá-los. Também, por questões obvias, não posso simplesmente atribuir-lhes nota sem qualquer merecimento, mas não nego que muitas vezes o faço ao reconhecer o esforço e a superação, por mínimos que sejam, mesmo que tecnicamente o resultado não seja lá tão bom. Todavia, alguns deles simplesmente somem da escola. Muitos desistem pelo caminho. Alguns estão tão desesperados que não resistem às tentações das ruas. Muitos, por jamais terem conhecido carinho, afeto e atenção, estranham qualquer aproximação e simplesmente somem. Temos pouco ou nenhum controle sobre isso, pois obrigá-los a retornar priva-os da liberdade de escolha, mesmo que a legislação seja contrária a isso. É nesse ponto que digo que meu respeito por eles é maior que o respeito pela legislação mesmo seguindo essa segunda.

Nunca me nego a atender um aluno. Seja a hora que for, onde for e o motivo que for. Ao ser inquirido pelo aluno, me vejo em um momento de rara beleza na Educação, momento esse tão raro nos dias atuais, que é quando o discípulo bebe na fonte do mestre. E esses momentos preciosos jamais podem ser negligenciados. E não o são.

Cumpro meu papel de educador com seriedade ao cargo e com o espírito que a função exige. Sinto-me cansado e me irrito às vezes para lembrar que continuo sendo humano. E quando a irritação é maior que o desejo de compartilhar coisas boas, me ausento da escola e permito que outro colega, mais calmo e preparado naquele momento, ocupe meu lugar. Prefiro ausenta-me a descarregar em meus discípulos uma carga que não pertence a eles.

E nesse ínterim, o governo diz que pagará o famoso Bônus pelo Mérito. Vejam bem o nome: “Bônus pelo MÉRITO”. Bonito nome, maravilhoso o gesto do governo. Atitude nobre de quem quer reconhecer o valor de quem realmente trabalha em prol da Educação como um todo.

Para isso, o governo utiliza alguns critérios para destinar valores corretos conforme o mérito de cada um. Também uma atitude louvável, pois uma distribuição aleatória de recursos poderia premiar quem não está tão comprometido em detrimento dos demais. Pois bem, quais são, então, os critérios utilizados: Um deles é o IDESP, um número frio e subjetivo que tem uma finalidade meramente estatística que não reflete em nada outros fatores que não a própria estatística gélida; o outro é uma prova de cunho técnico para avaliar habilidades específicas de cada aluno que jamais refletirá o processo evolutivo do aluno para chegar até ali, pois, como já dito acima, há fatores múltiplos que devem ser considerados para conduzir o aluno a um estágio maior de progressão e, mais que isso, como o próprio governo diz através de seus manuais, “cada aluno tem um tempo de aprendizado próprio e um nível diferente a ser superado e/ou alcançado”. Então, como pode uma única prova seca e padronizada medir a evolução de cada menino ou menina por trás daquela avaliação? E muito além disso, como essa prova ou o próprio IDESP conseguem medir o mérito de cada docente se cientificamente eles servem apenas para comparar estatisticamente e classificar pelo conhecimento técnico os alunos em grupo, desconsiderando, inclusive, a individualidade de cada um?

Assim, por esses critérios meramente técnicos, todo meu trabalho não foi levado em consideração, pois ele não fazia parte dos critérios de avaliação. Não tem nada. Pior para mim. Não recebi um centavo sequer de bônus. Nem um centavinho. Ou seja, a conclusão que chego é de que não tive mérito algum no que fiz. Nada do que foi desenvolvido, nenhuma orientação dada, nenhum conselho interessante, nenhum segundo de ouvido despendido a um único aluno sequer foi levado em consideração Não houve mérito nisso, pois o lado humano, pessoal, quente das relações, não são considerados. Fiquei sem bônus por priorizar a individualidade, por dar mais valor ao como aprender do que ao conhecimento petrificado e estático, por ouvir mais que falar, por repelir a tecnocracia em favor da humanização.

Entendo que isso seja injusto, mas quem sou eu para questionar o Governo do Estado de São Paulo cheio de especialistas em Educação, com renomados técnicos em motivação de pessoas e excelentes gestores da rés pública que se esforçam diariamente para proporcionar uma educação de qualidade aos cidadãos de nosso Estado? Sou um mero agente do estado. Sou um número. Também sou estatística, como cada um de meus alunos e, talvez por ser estatística assim como eles, esse seja o motivo de nos entendermos muito bem através de uma sintonia fina e de não conseguirmos compreender a grandeza das ações do Governo como é o caso da definição da palavra “mérito”.

Peço muito obrigado a todos aqueles citados no início dessa carta, mas digo que, mesmo assim, não me tornarei um burocrata frio focado em estatística. Não posso fazer isso comigo e nem com meus alunos. Isso será “demérito” demais. Que contradição, não?

Caso os critérios sejam reavaliados, talvez eu receba um dia o bônus que mereço pelo trabalho que desenvolvo, pois superei em muito mais de 20% as metas que estabeleci a meus alunos para o ano de 2010 dentro, claro, da priorização da individualidade de casa aluno. E, se esse critério fosse levado em conta e tendo como base um salário bruto médio de R$1.850,00 que recebi por vinte e cinco aulas no período noturno, por ter superado os 20% da meta, eu faria jus ao bônus de 2,9 vezes esse salário, ou seja, pouco mais que R$5.350,00.

Mas não é isso que o Governo entende por mérito. Não há mal nenhum nisso. Os critérios são subjetivos e não devem ser questionados. Contudo, jamais esse mesmo governo terá moralmente o direito de dizer que prioriza valores humanos dentro da escola e nem que, como diz o slogam do partido que governa o estado, que a prioridade são as pessoas, pois isso contradiz os critérios de bonificação por mérito adotados por ele próprio ao priorizar os números e os valores tecnicistas.

Assim, para finalizar, peço a orientação de meus superiores, dos especialista e dos pensadores da escola que norteiam a Educação Paulista: O que eu devo fazer para ter “mérito” perante ao Governo do Estado: continuar a tratar meus alunos como seres independentes, dotados de aptidões específicas, desejos próprios e ritmo peculiar de evolução ou devo me adaptar aos critérios adotados pelo governo que prioriza os números, a estatística e o tecnicismo, mesmo que para isso eu, digamos, me desumanize um pouco?

Parabéns ao governo pela tentativa de motivar os educadores através do bônus por mérito. Todavia, considerem os motivos humanos que envolvem a educação, pois, caso contrário, o efeito será desastrosamente reverso, já que a desmotivação que hoje é grande e pro todos os lados insiste em me abraçar, possa se tornar generalizada agravando ainda mais o quadro de desolação que toma conta das escolas por esse São Paulo de meu Deus.

Que a paz de Deus possa iluminar a mente de vocês que estão no comando e que possa Ele trazer a vós o discernimento necessário entre a justiça e a iniqüidade institucional.

Despeço-me com a certeza de vossa compreensão.


  José Marcelo Pavanelli
    Professor de Letras
jmpavanelli@hotmail.com